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Contos-->MEU GRANDE AMOR -- 03/05/2024 - 07:37 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MEU GRANDE AMOR



POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE



 



Gonçalves se criou na roça. Naquela época, o povoado Borda da Mata só tinha dez casas. Uma delas era a dos pais de Gonçalves que tinham uma propriedade de 25 tarefas com muitas cabeças de gado para corte. A família era grande. Seu Raimundo José, o genitor do moço; dona Anastácia a genitora, e os sete irmãos de Gonçalves. O moço Gonçalves era o filho mais novo.  Gonçalves era bem afeiçoado. Pele branca, cabelos lisos e castanhos claros, feições afiladas e uma estatura bem acima da média dos rapazes de Campos. Podemos dizer que o moço era muito bonito.



A vida no povoado era bucólica. Os afazeres da roça tomavam a maior parte do tempo das pessoas. Os jovens se divertiam na sinuca do bar de seu João, no banho de tanque, pois, havia muitos pela redondeza, e no campo de futebol nos sábados à tarde. Gonçalves cursava o primeiro ano do ensino médio em uma das escolas da sede do município. Todas as tardes, o rapaz pegava o ônibus para subir até Campos. Isto era uma verdadeira festa para a mocidade do povoado. Era também o momento em que rapazes e moças ficavam à vontade para conversarem e trocarem experiências.



Muitas garotas se aproximavam de Gonçalves. Contudo, a timidez do rapaz atrapalhava os intercâmbios amorosos. Mesmo assim, o rapaz namorou várias moças do povoado e por isso levou a fama de conquistador mesmo com todo acanhamento. Na verdade, as meninas faziam todo o processo para o namoro acontecer.



As moças mais belas do povoado procuravam Gonçalves. Quando elas conseguiam a atenção do rapaz o namoro acontecia. Uma delas foi Morgana. Morgana era uma moça linda, uma verdadeira campense descendente de holandeses. A moça era apaixonada por Gonçalves. Quando ele terminou a relação dizem as más línguas que ela pensou em suicídio: “Meu Deus, sem Gonçalves eu não vivo!” Por bastante tempo ela rondou o rapaz na intenção de reatar a relação, mas, Gonçalves dizia que seu coração não pedia aquilo. “Olha Morgana, você é uma moça adorável, mas, meu coração espera por outra pessoa”. Parecia que o rapaz estava predestinado para um grande amor.



Os pais de Gonçalves o mandaram morar na casa do tio em Campos. Seu Raimundo via que o menino precisava aprender uma profissão. Gonçalves foi trabalhar na padaria do tio na rua Itabaianinha. Cedo de manhã, o rapaz estava em pé para aprender a profissão de padeiro. Assim viveu Gonçalves até se tornar um homem jovem. Em Campos sua vida era totalmente diferente da do campo. Trabalhar durante o dia e estudar na Faculdade Fapise à noite consumia praticamente todo o tempo livre do rapaz. As namoradas apareciam, mas, como de costume, eram todas relações passageiras. Assim foi com Telma, sua namorada mais recente. Telma era de família rica. Os pais de Gonçalves davam a maior força para o filho ficar com a moça. “Gonçalves, uma moça branca e rica é um excelente partido”. No entanto, como dizia o rapaz, o coração não pedia. Depois de dois anos de namoro Gonçalves despediu a moça que muito triste foi morar em Itabaiana na casa dos avós.



Em uma manhã de sol muito quente em Campos. Gonçalves foi fazer uma entrega de pão no mercadinho Nosso Lar no bairro pobre da Bela Vista. Lá estava uma bela moça negra sentada em um banco de madeira. Quando Gonçalves passa com as caixas de pão ele avista a menina que desatenta nem percebeu que ele estava ali. Gonçalves sentiu pela primeira vez seu coração acelerar por uma mulher. Mas sua timidez costumeira não o permitiu abordar a moça que inocente olhava desatenta para a rua defronte o mercadinho. “Mas que deusa!” Pensou o moço caminhando de volta para a camionete. A imagem da moça permaneceu na retina de seus olhos por muito tempo. Ele esperava o dia da entrega de pão no mercadinho da Bela Vista para ver se encontrava a moça novamente.



Os dias passaram, as entregas passaram a ser feitas todas as manhãs, mas, nada da moça ser vista novamente pelo jovem Gonçalves. O rapaz não tirava a moça da cabeça até que um dia na praça da Bandeira, em um dia de sábado, assistindo ao jogo do flamengo e fluminense na tenda bar de seu Cornélio ele avista aquela figura negra sentada mais um rapaz. A moça Amanda era uma fiel representante da beleza africana. Gonçalves ficou a mirá-la o tempo inteiro de tal sorte que ela percebeu. A moça se levantou e sentou-se de costas para ele pois, o rapaz que estava com ela era seu namorado. Isto feriu o coração de Gonçalves que durante toda sua vida viu as mulheres se ajoelharem aos seus pés. “Meus Deus o que ocorre comigo?” Perguntou o moço a si mesmo. Gonçalves decide esperar os dois saírem para segui-los no intuito de saber onde a moça morava. O casal estava de moto e Gonçalves na camionete do tio. Por volta das nove horas o casal sai e Gonçalves os segue de longe. Na Bela Vista, em uma casa humilde, o rapaz deixa a jovem. Finalmente, Gonçalves sabia onde a jovem moça de África morava. Seu coração descansou um pouco, mas, a pergunta persistia em sua mente um tanto perturbada: “E agora, a moça tem namorado. Como vou me aproximar?” Gonçalves decide esquecer a menina Amanda. Chegou o mês de julho. Gonçalves vai para a Borda da Mata ficar com os pais o mês inteiro com a intenção de esquecer a moça Amanda que naquele momento ele nem sabia ainda o seu nome. 



Os dias no campo não relaxaram o rapaz Gonçalves que ainda pensava muito em Amanda. Na verdade, como ele dizia: “Se quer tenho um nome para chorar minhas mágoas!”. Gonçalves decide lutar contra o sentimento que o consumia. Seus pais perceberam que o rapaz comia pouco e não demonstrava interesse pelas garotas do povoado. Sua mãe passou a dizer que Gonçalves estava diferente. “Isso deve ser um xodó!” Dizia sua genitora quando o via só a pensar. Contudo, uma garota muito afeiçoada chamada Catarina se aproxima do moço e ambos começam uma relação. Catarina como afirmava sempre sonhou namorar o rapaz e viu naquele momento de fragilidade uma oportunidade. O namoro não durou muito tempo. Gonçalves não conseguia focar na relação. Sua mente estava fora do ar o tempo inteiro. Catarina vendo que estava perdendo o jogo decidiu se abrir com o moço:



- Gonçalves o que está acontecendo com você. Você não gosta de mim?



- Acho você uma pessoa muito doce e não quero te magoar. Mas meu coração está em outra mulher.



- Como assim? Não vejo você com ninguém. Pensei que estavas livre. Diz a moça com lágrimas nos olhos.



- Catarina. Foi uma moça que eu vi em Campos. A imagem dela não sai de minha cabeça. Sonho com ela todas as noites. Isso tem me perturbado muito. Não é nada com você. Você é uma mulher maravilhosa. Mesmo diante desta confissão Catarina continuou a namorar o rapaz Gonçalves que tentava amá-la, mas, em vão. Seu coração estava na moça negra e pobre do mercadinho.



O mês de julho estava indo embora. O único bar do povoado, o bar sinuca de ouro de seu João, deu uma festa com muito caldinho e carne assada. O povo do lugar estava todo lá e, também, muita gente de Campos. Gonçalves e Catarina estavam lá. Bebiam, sorriam e dançavam o forró pé de serra. Por volta das três da tarde chega uma motocicleta vindo de Campos e nela estava Amanda e seu namorado. Quando Gonçalves viu a moça seu mundo desabou. Seu coração batia tão forte que Catarina podia ouvi-lo apesar do som alto. Seu rosto branco ficou pálido e a moça percebeu que havia alguma coisa errada com ele: “Gonçalves, você que ir embora?” Perguntou a moça como se sua intuição de mulher a dissesse que seu território havia sido invadido. Gonçalves nada conta a sua namorada e permanece na festa até o final às nove horas da noite. Durante a festa o rapaz não parava de olhar para a jovem Amanda. Com o tempo ela percebeu e mais uma vez ela dá as costas para ele como se dissesse que era uma mulher comprometida. No entanto, em seu íntimo, ela começou a perguntar-se quem era o jovem que tanto a cobiçava. Naquela noite algo muito triste aconteceu com Amanda. Na volta para Campos, o casal é assaltado. Seu namorado reagiu e foi baleado. O povoado inteiro foi ver o rapaz caído na pista. Amanda chorava o tempo todo. Gonçalves queria ir consolá-la, mas, isso era impossível. No outro dia, em Campos, o Rádio de Campos anuncia o falecimento de José Emérito dos Santos.



Com a morte do rapaz José, Gonçalves se sente à vontade para conquistar Amanda. Ele com muita delicadeza rompe sua relação com Catarina que afirma já saber que a relação dos dois não tinha futuro. Agora, um homem livre para amar, Gonçalves caça sua presa como nunca fizera antes. Mas infelizmente, Gonçalves tinha uma timidez que o impedia de fazer muita coisa. Não poucas foram as vezes que ele encontrou Amanda pelas ruas de Campos, mas, não a abordava por causa de sua timidez.



O mês de agosto chegou. A festa da padroeira de Campos ocorre no dia quinze de agosto. Esta é uma ocasião em que todos os povoados sobem para Campos a fim de fazerem suas devoções. Gonçalves havia ido entregar pão no mercadinho da Bela Vista. Neste dia o destino colocou os dois frente a frente. Gonçalves vê a moça Amanda sentada no banquinho na entrada do mercadinho. Ele passa com o pão e a saúda com um bom dia. Amanda responde sorrindo e diz baixinho para ele: “Quer dizer que você é o rapaz que me encara!” Gonçalves ficou sem terra nos pés e tenta se explicar, mas, se atrapalha todo. Amanda cortando a conversa diz: “Meu nome é Amanda e o seu?” Gonçalves de cabeça baixa responde que seu nome é Gonçalves e que ele era um grande admirador dela desde a primeira vez que a viu:



- Desde a primeira vez que te vi que achei você uma pessoa interessante. Sempre tive o desejo de me aproximar, mas, você era comprometida. Sim, aproveitando o ensejo, para desejar meus pêsames pelo seu namorado. Amanda baixa a cabeça e enche os olhos de lágrimas. Então ela diz:



- Obrigada! A moça enxuga as lágrimas e procura se recompor. Então, ela pergunta se ele ia à noite para a novena às seis horas. Gonçalves vendo nisso uma oportunidade de estar com a moça diz que vai.



- Então a gente se encontra lá. Diz a moça sem timidez. Gonçalves vai as nuvens.



- Certo, te encontro lá. Responde Gonçalves um pouco gaguejando.



Gonçalves não sabia rezar o terço. Amanda católica desde criança rezava com toda fluência os mistérios de Nossa Senhora. Sentados um ao lado do outro receberam as bençãos de Maria. Depois do terço o casal foi para a praça da Bandeira comer espetinhos. Ali os dois conversaram sobre muitas coisas. Uma delas foi sobre o curso de direito que o rapaz fazia:



- Tio me disse que quando eu terminar o curso de Direito ele vai alugar uma sala para mim. Disse Gonçalves cheio de orgulho.



- Que bom Gonçalves que você está com seu futuro garantido. Eu trabalho no hospital; eu sou auxiliar de enfermagem. Amanda falou sua profissão cheia de humildade. Amanda continua:



- Mas o que te trouxe até mim mesmo? Vejo você um rapaz de família feita na vida e eu filha de pessoas simples? Inquiriu Amanda com olhar sério para o jovem.



- Desde a primeira vez que te vi meu coração esquentou. Parecia que tinha um vulcão dentro de mim. O que eu sinto por você eu nunca senti por ninguém.



- Mas, você não acha que está se precipitando. Eu quero ficar com você, mas, sem promessas de coisas sérias. A morte de meu namorado está muito recente e eu ainda estou muito apegada a tudo.



- Só em você aceitar ficar comigo já me faz um homem feliz. Eu te prometo que eu vou te fazer uma mulher muito feliz. Após o espetinho Gonçalves foi deixar Amanda em casa. Ao chegar a sua casa havia um recado para ele. Seu pai soube que ele estava com uma mulher de cor andando pela cidade. Um primo dele o viu de longe e ligou para seu Raimundo. Seu pai o repreendeu e disse que ele prometesse que não lhe daria um neto preto: “Gonçalves não me dê um neto preto”. Campos é uma cidade com grande parte da população branca. Os negros que aparecem são os turistas e negociantes da feira que vêm da Bahia. Por essa razão o racismo ainda é muito forte em Campos.



Gonçalves não se importa com a imposição do pai e continua sua relação com Amanda. O tempo passa e os dois se apegam profundamente:



- Agora eu sei que o que sinto por você é amor. Disse a jovem Amanda com tom de afeto.



- Mas, eu sempre soube que te amava. Foi amor à primeira vista. Disse Gonçalves com voz de sussurro. Os dois se encontravam todos os dias. As vezes à noite, outras vezes Gonçalves ia ao hospital para dar um beijo em Amanda e passar alguns minutos com ela.



Seu Raimundo e dona Anastácia não concordavam com o filho e faziam de tudo para demovê-lo dessa relação: “Já pensou, uma negra na família, e além de tudo pobre”. O cruel tempo passou e chegou o Natal. Era costume a família fazer um jantar de Natal no dia vinte quatro. Dona Anastácia apesar de ser contrária ao namoro do filho diz ao mesmo para trazer sua namorada. Na noite de Natal foram contadas muitas piadas sobre negros; a situação ficou muito constrangedora. Gonçalves discute com os pais e leva Amanda para casa:



- Meu amor, desculpe o comportamento de meus pais. Saiba que eu não penso como eles. Disse Gonçalves com um tom de tristeza e vergonha.



- Eu lamento seus pais serem assim. Você sabia que racismo é crime? E eu podia processá-los?



- Eu sei meu amor, mas, não faça isso. Apenas vamos nos afastar deles. Vamos viver nosso amor só nós dois. Os pais de Gonçalves resolvem dar um ultimato ao filho. Eles disseram que se o filho não acabasse a relação ele seria deserdado: “Se você continuar com esta moça você não herdará nada meu!”



Mas, Gonçalves não ouviu os pais e continuou seu amor com Amanda. Isso provocou a fúria de seus genitores: “Ah, eu sei como eu acabo com isso!” O casal Raimundo e Anastácia resolvem pedir ajuda a seu Antônio do Campestre. No Campestre, no alto da serra, dentro de uma mata tem uma igreja consagrada ao demônio. Antônio do Campestre era conhecido como matador de gente. Diz o povo que os políticos quando querem se livrar de um desafeto o procuram. Dona Anastácia não lavou o prato e os talheres que Amanda usou na festa de Natal. E levou para o bruxo dar um jeito na menina. Depois de vinte um dias Amanda cai de cama. Tudo começou com um mal-estar, depois feridas foram aparecendo no seu corpo. As feridas fediam, pois, tinham muito pus. Após duas semanas de cama, a menina Amanda estava irreconhecível. Gonçalves pedia a Deus todos os dias por sua amada. Todos os dias estava ele ao lado dela no leito de dor. O tempo cruel e implacável passou. Um mês, dois meses, um ano e nada da menina melhorar. Os médicos não sabiam o que era. Alguns diziam que Gonçalves procurasse um centro Espírita, mas, os pais de Amanda, muito católicos, não aceitavam a ideia.



Raimundo e Anastácia deram três bois a Antônio como pagamento pelo trabalho. Os pais de Gonçalves estavam confiantes que o filho ia desistir da moça que apodrecia na cama: “Agora ele vai desistir dela!” No entanto, no mês de abril do ano de 2005 chegou ao conhecimento de Gonçalves a existência de um rezador morador da cidade de Simões Filho na Bahia. A fama desse homem corria todo o sertão entre Sergipe e o estado da Bahia. O nome dele era Pompeu. Gonçalves decide levar Amanda à casa do rezador. Os pais de Amanda com dificuldades aceitaram a ideia. Pompeu ao ver Amanda recebe uma entidade que se dizia um tal caveira. “Eu vou matar a moça. Eu comi, eu bebi e vou fazer o serviço”. Pompeu rezou a moça e depois molhou Amanda com água de ervas sagradas. Gonçalves agradeceu a caridade e retornou a Campos. Em sete dias as feridas secaram; Amanda começou a ganhar peso e brilho nos olhos. Amanda se levantou do leito de dor e foi para os braços de seu amor. Um ano depois, Gonçalves advogado formado, casa com sua amada. Os pais de Gonçalves viveram três anos depois deste ocorrido. Primeiro morreu seu Raimundo, depois foi dona Anastácia. O casal Gonçalves e Amanda foi feliz durante os dias que Deus lhe deu...



 



 


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